04.01.2006 - A imagem é histórica e bela. Esperada, ansiada, por mais de 500 anos. Dia de sol, verão na Venezuela. Um avião cubano desce feito um pássaro mágico. De dentro dele desce o aymara Evo Morales, com sua cara larga e nariz adunco. Presidente eleito da Bolívia numa votação histórica. No chão, o espera outro homem moreno, de rosto autóctone, também oriundo dos povos originários. Presidente da Venezuela, confirmado pelas gentes por sucessivas vezes. Os homens se abraçam e passam em revista as tropas. Caminham sérios rumo ao que chamam de “a hora do povo”. É como se Awyayala (a terra originária) renascesse. Impossível ficar imune à cena.
Na voz dos repórteres das TVs, mui dignos representantes da ordem burguesa, os textos são eivados de preconceito. “Amigos de Fidel”, “provocadores”, “populistas”, e toda a sorte de adjetivos desairosos permeiam as falas, deixando claro que aquela cena é pura glicerina. Um perigo para a ordem internacional. Esse cheiro de coisa primitiva que tanto assusta mercados e mercadores.
Os dois homens não se furtam de lembrar Fidel. Dizerem-se amigo do velho comandante não lhes parece desairoso. É honra. Eles falam de socialismo, de parcerias bolivarianas, de nacionalização, de povo. Temas perigosos para quem domina. Por outro lado, são modestos. Buscaram a via da “ordem”, disputaram as burguesas eleições, sentam à mesa com o grande capital, admitem acordos. Mesmo assim, são temidos. O “grande irmão” sabe que podem escapar. Aquelas caras originárias, aparentemente inexpressivas, têm a potência da explosão e já mostraram isso. E mais. Juntos, os dois homens - com Fidel - querem mudar a face da Pátria Grande. Esperam contar com Kirchner, na Argentina, com Tabaré, no Uruguai, com Lula, no Brasil. Sonham. Conspiram.
Mas, o pretenso dono do mundo – o governo dos EUA - também conspira e, ao contrário dos dois homens descendentes dos autóctones de Awyayala, o faz em surdina, escondido, usando todas as armas sujas de que a cultura humana dispõe. Quem conhece a história sabe. Foi assim na sua formação, quando o governo branco inventava mentiras sobre os povos originários e massacrava grupos inteiros, abrindo o famoso “caminho para o oeste”, coisa que muita gente aplaude nos malfadados filmes de mocinho, até hoje em voga – inclusive inspirando novelas da Globo.
O medo de perder o controle leva o governo estadunidense a usar de seus agentes secretos que plantam informações falsas, criam intrigas, promovem assassinatos e provocam a guerra. Foi assim na época dos escravos, quando disseminavam o ódio entre negros e brancos pobres, para impedir a rebelião. Foi assim quando inventaram uma guerra civil dentro de sua casa para impedir o avanço da luta dos trabalhadores. Foi assim no século XIX quando intervieram na vida de países como Cuba, Argentina, Nicarágua, Japão, Uruguai, China, Angola, Haiti e Hawai, sempre para defender os interesses das empresas estadunidenses, embora usando o velho refrão de “luta pela liberdade”. Desde aqueles idos tempos, o mote que tem movido os governos sucessivos é de que “a guerra é a saúde do estado”, pois é nesses períodos que a economia cresce e o povo pode ser unificado num objetivo comum.
Tudo isso pode ser confirmado também no século XX quando, sob a lógica do combate ao socialismo, o governo dos Estados Unidos fez a guerra praticamente o tempo todo e sempre amparado em mentiras. Mentiu na primeira guerra mundial quando disse que o navio torpedeado pelos alemães – que levou os EUA a combater – era um inocente navio mercante. Não era. Levava milhares de caixas de munição, abastecendo a guerra. Segundo o historiador estadunidense Howard Zinn, a lista de carga foi falsificada. Também mentiu o governo ao fazer intervenções em Cuba, no México, na Nicarágua, Guatemala e Honduras. Dizia defender a liberdade quando na verdade defendia a United Fruit dos ataques de governos “socialistas”. Mentiu quando jogou as bombas atômicas contra um país quase rendido. Mentiu quando fez a guerra no Vietnã, usando espiões e falsas provas para combater um governo que não se alinhava aos seus planos de poder. E assim seguiu mentindo até os dias de hoje, quando invadiu o Afeganistão e o Iraque também usando os artifícios das falsas acusações.
Agora os olhos estão pregados na América Latina. Pelas veredas da “nuestra pátria grande” caminham os espiões, os desagregadores, os infiltrados. Contam com as elites locais, com a mídia cortesã e vão disseminando mentiras que viram verdades. Estão na Colômbia, ocupando tudo sob o argumento de que querem livrar o mundo da cocaína – como se não fossem eles os produtores. Cocaína não é o mesmo que coca e sua ancestral utilidade para os povos andinos. Estão no Equador, na Argentina, no Peru, no Brasil. Estão em toda a parte. O império treme e se arma.
Por isso a imagem dos dois homens de pele morena, de cara autóctone, é ao mesmo tempo bela e triste. Bela, porque mostra que algo está mudando nessas terras do sul e triste, porque alerta para momentos de grande tensão. Uma luta feroz está sendo travada nos bastidores da vida real. As mentiras pululam e o véu de maya está estendido nas telas de tv, nas ondas do rádio, nas páginas do jornal. Resta saber se as populações estão atentas para não se deixarem iludir pelo velho argumento de “luta pela liberdade” que os EUA não cansam de apregoar. A única liberdade que defendem é a de suas empresas e seus interesses. Um novo tempo se anuncia em Awyayala, mas não virá de governos – ainda que socialistas ou libertários. Virá das gentes, unidas, organizadas e capazes de fechar os ouvidos ao canto enganador...
Na voz dos repórteres das TVs, mui dignos representantes da ordem burguesa, os textos são eivados de preconceito. “Amigos de Fidel”, “provocadores”, “populistas”, e toda a sorte de adjetivos desairosos permeiam as falas, deixando claro que aquela cena é pura glicerina. Um perigo para a ordem internacional. Esse cheiro de coisa primitiva que tanto assusta mercados e mercadores.
Os dois homens não se furtam de lembrar Fidel. Dizerem-se amigo do velho comandante não lhes parece desairoso. É honra. Eles falam de socialismo, de parcerias bolivarianas, de nacionalização, de povo. Temas perigosos para quem domina. Por outro lado, são modestos. Buscaram a via da “ordem”, disputaram as burguesas eleições, sentam à mesa com o grande capital, admitem acordos. Mesmo assim, são temidos. O “grande irmão” sabe que podem escapar. Aquelas caras originárias, aparentemente inexpressivas, têm a potência da explosão e já mostraram isso. E mais. Juntos, os dois homens - com Fidel - querem mudar a face da Pátria Grande. Esperam contar com Kirchner, na Argentina, com Tabaré, no Uruguai, com Lula, no Brasil. Sonham. Conspiram.
Mas, o pretenso dono do mundo – o governo dos EUA - também conspira e, ao contrário dos dois homens descendentes dos autóctones de Awyayala, o faz em surdina, escondido, usando todas as armas sujas de que a cultura humana dispõe. Quem conhece a história sabe. Foi assim na sua formação, quando o governo branco inventava mentiras sobre os povos originários e massacrava grupos inteiros, abrindo o famoso “caminho para o oeste”, coisa que muita gente aplaude nos malfadados filmes de mocinho, até hoje em voga – inclusive inspirando novelas da Globo.
O medo de perder o controle leva o governo estadunidense a usar de seus agentes secretos que plantam informações falsas, criam intrigas, promovem assassinatos e provocam a guerra. Foi assim na época dos escravos, quando disseminavam o ódio entre negros e brancos pobres, para impedir a rebelião. Foi assim quando inventaram uma guerra civil dentro de sua casa para impedir o avanço da luta dos trabalhadores. Foi assim no século XIX quando intervieram na vida de países como Cuba, Argentina, Nicarágua, Japão, Uruguai, China, Angola, Haiti e Hawai, sempre para defender os interesses das empresas estadunidenses, embora usando o velho refrão de “luta pela liberdade”. Desde aqueles idos tempos, o mote que tem movido os governos sucessivos é de que “a guerra é a saúde do estado”, pois é nesses períodos que a economia cresce e o povo pode ser unificado num objetivo comum.
Tudo isso pode ser confirmado também no século XX quando, sob a lógica do combate ao socialismo, o governo dos Estados Unidos fez a guerra praticamente o tempo todo e sempre amparado em mentiras. Mentiu na primeira guerra mundial quando disse que o navio torpedeado pelos alemães – que levou os EUA a combater – era um inocente navio mercante. Não era. Levava milhares de caixas de munição, abastecendo a guerra. Segundo o historiador estadunidense Howard Zinn, a lista de carga foi falsificada. Também mentiu o governo ao fazer intervenções em Cuba, no México, na Nicarágua, Guatemala e Honduras. Dizia defender a liberdade quando na verdade defendia a United Fruit dos ataques de governos “socialistas”. Mentiu quando jogou as bombas atômicas contra um país quase rendido. Mentiu quando fez a guerra no Vietnã, usando espiões e falsas provas para combater um governo que não se alinhava aos seus planos de poder. E assim seguiu mentindo até os dias de hoje, quando invadiu o Afeganistão e o Iraque também usando os artifícios das falsas acusações.
Agora os olhos estão pregados na América Latina. Pelas veredas da “nuestra pátria grande” caminham os espiões, os desagregadores, os infiltrados. Contam com as elites locais, com a mídia cortesã e vão disseminando mentiras que viram verdades. Estão na Colômbia, ocupando tudo sob o argumento de que querem livrar o mundo da cocaína – como se não fossem eles os produtores. Cocaína não é o mesmo que coca e sua ancestral utilidade para os povos andinos. Estão no Equador, na Argentina, no Peru, no Brasil. Estão em toda a parte. O império treme e se arma.
Por isso a imagem dos dois homens de pele morena, de cara autóctone, é ao mesmo tempo bela e triste. Bela, porque mostra que algo está mudando nessas terras do sul e triste, porque alerta para momentos de grande tensão. Uma luta feroz está sendo travada nos bastidores da vida real. As mentiras pululam e o véu de maya está estendido nas telas de tv, nas ondas do rádio, nas páginas do jornal. Resta saber se as populações estão atentas para não se deixarem iludir pelo velho argumento de “luta pela liberdade” que os EUA não cansam de apregoar. A única liberdade que defendem é a de suas empresas e seus interesses. Um novo tempo se anuncia em Awyayala, mas não virá de governos – ainda que socialistas ou libertários. Virá das gentes, unidas, organizadas e capazes de fechar os ouvidos ao canto enganador...
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