Quem são os donos das terras em Santa Catarina?


24.08.2017 - O trabalho minucioso e silente do ecologista e militante social Gert Schinke sobre a questão da terra em Santa Catarina resultou num livro explosivo, lançado em 2015: "O Golpe da Reforma Agrária: Fraude Milionária na Entrega de Terras Em Santa Catarina". Olimpicamente ignorado pela mídia comercial, o trabalho de pesquisa de Gert denuncia as doações irregulares feitas pelo Estado, durante a ditadura militar, à amigos e correligionários, desvelando assim a farsa sobre a posse do território.

O livro do Gert apareceu justamente num momento em que a cidade discutia vivamente o tema da posse da terra, depois de experienciar a impactante e paradigmática “Ocupação Amarildo”, uma toma de terra na região da praia de Canasvieiras por famílias que não podiam mais pagar os abusivos aluguéis cobrados na ilha. A ocupação, apesar de ter sido violentamente combatida, com as famílais sendo retiradas do local, colocou à nu a verdadeira face dos “donos da terra” e levantou o debate sobre uso do solo. Naqueles dias, o empresário Artêmio Paludo reivindicava a terra como sua e, depois, foi comprovado de que não era. Havia ali acontecido a típica grilagem. Ou, no bom português: roubo.

Pois o livro, apesar de boicotado pelos meios de comunicação, seguiu seu caminho. Era um trabalho de investigação, totalmente documentado, e que mostrava como o governo havia usado a proposta de “reforma agrária” pensada antes do golpe de 1964, para presentear os amigos através do Instituto de Reforma Agrária de Santa Catarina. Na pesquisa, foram registrados os nomes e sobrenomes das famílias que levaram terras, grandes extensões, de maneira totalmente irregular.

Tudo parecia seguir o velho caminho das denúncias que se fazem sobre os ricos: o vazio. Mas, sem que se pudesse prever, essa semana a Polícia Federal (PF) chegou a dois órgãos do estado: a  Secretaria de Agricultura e Pesca e o Centro de Informática e Automação do Estado de Santa Catarina (Ciasc). Tinha um mandado de busca e apreensão de documentos. Os agentes levaram caixas e caixas dos materiais históricos referentes ao repasse de terras no Estado para terceiros. Foram recolhidos microfilmes e papéis com registros antigos da reforma agrária que agora o Ministério Público Federal (MPF) pretende investigar. Eles querem saber se, de fato, conforme denunciava Gert, foram distribuídas áreas da União de forma irregular.

Segundo o procurador João Marques Brandão Neto todo o material também vai passar por um processo de digitalização, para evitar que se percam.

É certo que discutir a posse da terra no Brasil é sempre mexer num vespeiro e tudo pode acabar em pizza, principalmente nesses tempos. Mas, sempre há uma chance de a justiça acontecer. Para Gert Schinke, autor do livro que provocou essa ação, a sensação é de pura alegria. Afinal, foi o seu paciente estudo que levou a essa descoberta, de ilegalidades e fraudes. Na época da pesquisa ele mesmo se surpreendeu que as provas estivessem todas ali, nos arquivos, mostrando o quanto a classe dominante vive certa da impunidade sobre si.

O trabalho de Gert, apesar de não ter sido discutido ou conhecido pela mídia comercial, gerou debates em todo o Estado, pois aponta os ganhadores de terra em várias regiões de Santa Catarina. Por conta dessa recepção, ele seguiu pesquisando e agora em setembro lança a segunda edição do livro, revisada e ampliada em mais de duzentas páginas.

A verdadeira face dos “donos das terras” aparece em sua claridade. Nesses momentos em que “empresários” discutem inclusive a legalidade da ocupação indígena no Morro dos Cavalos, por exemplo, é fundamental conhecer como foi que boa parte dos barões das terras no estado tiveram acesso a ela.

A segunda edição de o "O Golpe da Reforma Agrária: Fraude Milionária na Entrega de Terras Em Santa Catarina" será lançada no dia 4 de setembro no salão da Reitoria da UDESC, às 19h. mais um sucesso da Editora Insular.

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