Povos indígenas da Guiana Francesa contra a hipocrisia de Emmanuel Macron


27 de agosto de 2019

Solidariedade Amazônica

Há várias semanas os olhos do mundo inteiro estão voltados para a floresta amazônica. Ainda assim, frequentemente se esquece, arbitrariamente ou não, que essa floresta é habitada e manejada equilibradamente por povos indígenas há milênios. O vínculo fraterno que nos une entre os povos indígenas da Amazônia transcende as fronteiras administrativas.

Desde a Guiana Francesa, observamos com grande tristeza os incêndios que assolam nossa floresta em diferentes países. A Amazônia é o território ancestral dos povos ameríndios. A Amazônia serviu de refúgio no momento da rebelião contra o sistema escravista.

A floresta é mais do que um conjunto de árvores e animais. Nós, povos ameríndios e Bushinengé (quilombolas), temos com ela um vinculo especial em nível cultural, espiritual, econômico, etc.

Quando nós vemos as chamas, é tudo isso o que se queima e é isto que cria essa profunda compaixão e solidariedade para com os povos e comunidades que estão enfrentando diretamente essa tragédia.

Os responsáveis pela destruição

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro disse em 12 de abril de 1998 que: "[...] a cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado." É óbvio que esse personagem profundamente racista tem grande parte de responsabilidade, mas o Grand Conseil Coutimier se recusa a ceder à facilidade e personificar o problema real que é na verdade, político e econômico e que está apoiado pela maioria dos governantes a nível mundial.

Estes não são meros incêndios, é o trabalho do capitalismo.

O Brasil não é o único país amazônico afetado pelas chamas, a Amazônia não é a única floresta em chamas, na África também a floresta queima e os povos e todos os seres sofrem com essa destruição.

O fogo não é o único perigo que ameaça ou destrói a Amazônia. O extrativismo é amplamente responsável. E estamos surpresos com a posição do presidente Emmanuel Macron, que consiste em denunciar a destruição da Amazônia brasileira ou boliviana, mas ao mesmo tempo entregar 360.000 hectares de floresta para empresas multinacionais de mineração na Guiana Francesa, na Amazônia francesa.

Nosso posicionamento

O Grand Conseil Coutumier é responsável por representar e defender os interesses dos povos ameríndios e bushinengés (quilombolas) da Guiana Francesa.

Desejamos reafirmar nossa solidariedade com os povos diretamente afetados por esses incêndios e pedimos à população que finalmente perceba a importância da floresta.

Nós nos recusamos a co-assinar a declaração da Ministra Annick Girardin, porque nela há uma falta de compromisso em reconhecer os direitos dos povos indígenas e seu papel na preservação da biodiversidade. Apoiamos sua proposta de aumentar o financiamento da UE para o desenvolvimento da Amazônia, no entanto a participação plena dos povos indígenas em sua gestão deve ser garantida. Apoiamos sua proposta de criar um fundo internacional para a Amazônia, mas defendemos que este seja gerenciado diretamente na Amazônia pelos povos e comunidades indígenas.

Notamos o compromisso do Presidente da República, Emmanuel Macron de "associar os povos indígenas"; no entanto, isso deve resultar na participação plena dos povos indígenas em todas as decisões relativas à Guiana Francesa e à Amazônia, garantindo o fortalecimento do Grand Conseil Coutumier como instância de decisória com meios incontestes de funcionamento.

Apelamos mais uma vez ao governo francês que ratifique a Convenção 169 da OIT, a fim de reconhecer verdadeiramente os direitos dos povos indígenas.

Por fim, a Amazônia é muito mais que uma floresta, é nossa "casa", está viva e está morrendo pela ação do homem. Juntos, vamos mudar o destino do nosso planeta e ter a coragem de mudar o rumo para o futuro e para a esperança.

Grand conseil coutumier des Peuples Amérindiens et Bushinengé

Original disponível em: https://agauche.org/2019/08/27/lamazonie-est-bien-plus-quune-foret-affirme-le-grand-conseil-coutumier-des-peuples-amerindiens-et-bushinenge/

Nenhum comentário: